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Paulo Hartung - Um exemplo de Liderança

A lista de conquistas do economista capixaba Paulo Hartung é extensa.

Com 25 anos foi eleito deputado estadual, com 35 anos assumiu a prefeitura de Vitória, a capital do Estado de Espírito Santo. Com 41 anos ganhou a maior votação que um candidato ao Senado recebeu em seu Estado. Seguiram-se três períodos como governador, sendo sua reeleição em 2006 com 77% dos votos a maior votação de um político no Brasil naquele ano. Também foi diretor da Área Social do BNDES (1997) durante o governo Fernando Henrique Cardoso.


Na iniciativa privada, atuou ainda nos conselhos da EDP do Brasil, da Veracel Celulose, da Unimed Participações e da Vale. Em 2019, finalizou seu último ciclo de mandato eletivo para assumir a presidência da Ibá, associação que representa a cadeia de árvores cultivadas.

Em conselhos, palestras e cursos, compartilha suas visões estratégias, bem como as experiências na gestão pública e agora privada.

A construção de equipes e de lideranças pode ser considerada seu maior legado para as gerações que irão transformar o potencial do Brasil em projetos que beneficiem a população como um todo.


Quais considera as principais diferenças entre as estratégias de planejamento e da implementação de projetos na administração pública e na gestão empresarial?
O planejamento estratégico se tornou ferramenta decisiva para a administração tanto privada, quanto pública.

O setor privado montou espaços para supervisionar e corrigir rumos da implementação das metas e objetivos do planejamento há muitas décadas.

No setor público, a diferença é que isso chegou tempos depois, mais recentemente, e com tropeços gerados pela descontinuidade, como com a troca de comando que é feita a cada quatro anos.

Ainda assim, hoje podemos observar como a gestão pública também evoluiu com o gerenciamento intensivo de metas e objetivos. Essa prática, naturalmente, varia de estado para estado e pode encontrar diferenças significativas entre municípios conforme região geográfica. 

Com boas notas em todas as matérias escolares, quais foram os motivos para optar pelo curso de economia? Teve um mentor que ajudou na tomada desta decisão?
Eu sempre gostei muito de matemática e cheguei a flertar com a engenharia.

Mas o período em que refleti sobre meu rumo profissional foi um de visibilidade de grandes nomes da economia, como Henrique Simonsen, Celso Furtado, Delfim Netto, Maria da Conceição Tavares, entre muitos outros. O desempenho e presença deles em governos ou no debate nacional me estimulou a seguir a carreira.

Sua vocação para a causa pública revelou-se cedo, ainda durante o período da faculdade. Respondeu a convites para ingressar na carreira pública ou seguiu sua vocação natural?
Minha jornada pela vida pública foi natural, começou ainda antes da faculdade, quando era secundarista e fui eleito presidente do grêmio do Colégio Salesiano. Era uma atividade mais ligada a cultura e esportes, mas não deixava de ser um espaço de exercício de liderança.

Já na universidade me tornei representante do movimento estudantil no momento de reconstrução da UNE e fui o primeiro presidente na reabertura do Diretório Central dos Estudantes, dois movimentos de caráter mais político, ligados à luta pela redemocratização do país e a melhoria da qualidade do ensino, o que me conduziu posteriormente a mandatos eletivos na vida pública.  

No setor público a realização de políticas e projetos ocorre sempre num ambiente complexo, lento e com interesses legítimos muitas vezes divergentes. Não teria sido mais fácil assumir posições de tomada de decisões estratégias no mundo empresarial?
Ser um gestor público dentro da estrutura republicana e democrática exige capacidade de convencer diversos atores dos caminhos a serem seguidos. Atores internos, da máquina pública, instituições, demais poderes, tribunais de contas etc.

Além de convencer a sociedade como um todo, o que não é um processo fácil. Vicente Fox, ex-presidente do México, fala sobre esse balanço em um de seus livros. Mas há um aspecto que apenas existe na vida pública: a escala em que você impacta a vida das pessoas.

Tenho muita alegria dessa minha escolha, que me permitiu interferir de maneira transformadora na sociedade. Defendo, inclusive, que executivos do setor privado tenham esse olhar que transcenda seus próprios negócios e em ações que melhorem a vida em sociedade. 

Em minha visão, o líder empresarial moderno, além de cuidar bem de sua empresa, deve participar do debate sobre os rumos do país e da sociedade em que a companhia está inserida, contribuindo para as melhorias necessárias.  

Comparando sua longa experiência de tomar decisões, orientar equipes e delegar responsabilidades como governador com a nova realidade de executivo, teve que ajustar sua prática de gestão?
É indiscutível o fato de o setor público ser engessado por um conjunto de normas e regulamentos feito em um tempo que não existe mais. O ato de contratar e comprar é muito burocrático e não gera os resultados desejados. Eu defendo há muito tempo uma reforma administrativa do RH do setor público, de forma a torná-lo mais flexível e ágil.

Consequentemente, isso aumentaria a qualidade da contraprestação de serviços. Temos esse desafio histórico pela frente. Acho essa agilidade e flexibilidade as principais diferenças entre gestão pública e privada. 

Em suas palestras, foca muito na construção de lideranças. Quando for lembrar a realidade dos anos 70, quando iniciou sua carreira, com o ambiente da comunicação aberta e imediata de hoje e com vantagens de ensinamento e autoaprendizado bem melhor, como avalia o potencial de futuros líderes olhando para a geração dos recém-formados?
O país formou muitos líderes das mais diversas vertentes do pensamento no entorno de 1964. Um segundo momento de formação foi o processo de luta pela redemocratização do país, de onde vem minha geração. De lá para cá houve certo vazio de liderança e em alguns episódios políticos isso ficou escancarado. 

Eu tenho participado desde o final de meu último ciclo em mandatos eletivos do RenovaBR, uma organização que forma meninas e meninos para a vida pública, considerando as novas tecnologias de informação e comunicação, o que tem sido vital para esses recém-formados. Também defendo a importância de que partidos transformem suas fundações partidárias em plataformas de formação para essa necessária renovação política. 

Fazendo parte da iniciativa RenovaBR, qual seria seu conselho para um jovem que está na dúvida de focar numa carreira técnica ou se tornar um líder, seja na função pública, seja na vida empresarial? Dizem que um líder não nasce líder. Mas como ele pode ser desenvolvido, e por quem? Quais considera as características básicas para futuras funções de liderança?      
A vida é treinamento. A gente aprende a conduzir reuniões, fazer negociações, falar em público, desenvolver a capacidade de convencer pessoas. Ou seja, formamos líderes. Por isso plataformas como o Renova e os partidos podem ter papel essencial nesse processo. 

Tenho falado com jovens que é possível ter a experiência pública e a privada. Minha trajetória é um exemplo nesse sentido. Em cada mergulho que fiz em cada uma dessas áreas aprendi muito e levo a experiência aplicável de uma para a outra. Se diz muito que o setor público tem a aprender com o privado, mas o contrário também é verdadeiro. Todos têm a ganhar com essa troca. 

Considerando o novo normal do funcionamento de trabalho à distância com crescente influência de aplicativos da inteligência artificial, como imagina a coexistência, bem como a colaboração interativa, entre a inteligência artificial e a inteligência humana no estado e nas empresas?
Acredito que exista um enorme potencial na aplicação da inteligência artificial combinada com a humana.

Estamos falando de um aumento de eficiência válido tanto para o setor público, quanto para o privado. Podemos testemunhar uma revolução em termos de desburocratização e agilidade.

Temos, por exemplo, um poder legislativo mais próximo das pessoas ou um judiciário mais ágil. Mas claro, há riscos, e por isso precisamos criar os mecanismos adequados para mitigá-los, assim como tudo na vida. 

Como economista bem-sucedido e com experiências na vida pública, em bancos e numa empresa de porte internacional, se puder voltar para sua decisão sobre a formação universitária, qual disciplina escolheria hoje? E como avalia a competitividade desta escolha? Com quais critérios deveríamos orientar nossos filhos?
Avalio bem a escolha que fiz lá atrás.

Meu pai queria que eu fizesse direito, por exemplo, o que eu entendo, pois precisei estudar muito direito mais tarde em minha vida. Mas sigo satisfeito com o rumo que tomei.


Pais devem ter paciência e tolerância no processo decisório dos filhos. Foi assim que tentei conduzir a criação dos meus. Jovens hoje têm valores e crenças diferentes de minha geração e mais do que falar para eles, precisamos ouvi-los.

Assim vamos entendendo algo importante que é o propósito de vida de cada um. Jovens hoje buscam valores em sua profissão, querem estar em empresas que estejam alinhadas a isso.

A pandemia ainda acelerou processos de mudança do mercado de trabalho, sendo o home office o exemplo mais visível, mas não o único. O mundo do trabalho mudou e está mudando, é necessário ter humildade e procurar aprender.  


“Em minha visão, o líder empresarial moderno, além de cuidar bem de sua empresa, deve participar do debate sobre os rumos do país e da sociedade em que a companhia está inserida, contribuindo para as melhorias necessárias. “

 

 


Por Francisco Vila 

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