Márcio Pavan nasceu e cresceu no interior do Estado de São Paulo, como filho de uma família de comerciantes e transportadores com ascendência italiana e espanhola.
Não só ele, mas também seus três filhos homens e uma filha mulher, desde cedo mostrou vocação e paixão para criar negócios.
Com formação em tecnologia, como sua esposa, trabalhou em diversas empresas de grande porte e de vários setores. Observador de oportunidades, decidiu focar sua atenção e energia para identificar investimentos em diversas áreas.
Recentemente, os projetos surgem mais no setor do agro. Através da sua rede de nove amigos, troca diariamente informações válidas sobre tendências do mercado financeiro e oportunidades de investimentos.
Tendo crescido num ambiente familiar de comerciantes, por que resolveu formar-se na área de tecnologia? Quem foram seus mentores?
Nos anos 90 a tecnologia da informação era um segmento que começava a se expandir. Como era um setor novo, todos tinham a mesma oportunidade de se destacar, bastava apenas dedicação, foco e estar bem conectado, que as oportunidades apareceriam, sem contar que era uma das áreas que melhor remunerava os jovens. Francisco Oliveros, meu tio, executivo de um Grande Banco a época, exercia a função de Mentor e foi um exemplo de motivação. Ele acabou me direcionando para uma oportunidade no Banco na área de tecnologia.
Em que momento, e através de qual evento, percebeu que investimentos no agro poderiam ser a opção mais interessante para seu trabalho?
No final dos anos 90, algumas empresas ligadas ao setor agro, com estrutura familiar, começaram a ter problemas financeiros.
Os patriarcas começaram a ficar com receio de comprometer ainda mais o patrimônio familiar.
Com base nisso, muitas oportunidades começaram a surgir, como empresas com dívidas na pessoa física e jurídica, com patrimônio comprometido tanto da empresa quanto da pessoa física. No segmento do agro existe uma prática comum de cruzar os avais, as garantias, com a necessidade de caixa bastante intensa. A falta de planejamento era latente. Praticamente não existiam operações estruturadas.
Os instrumentos financeiros não eram os mesmos que temos hoje. Também, a segurança jurídica era outra. Portanto, surgiam muitas oportunidades para assumir o passivo de terceiros em troca do ativo vinculado ao passivo, com baixo investimento de aquisição, sendo necessário apenas capital para o fluxo do caixa do período da entressafra. Ferramentas de gestão juntamente com uma equipe boa, além de planejamento, negociações, renegociações, geravam o suficiente para colocar as operações em outros níveis. Até que começassem a gerar lucros e pudessem ser vendidas a grandes players, simplesmente liquidando os ativos pagando o passivo já renegociado.
Você comentou que nos anos 90 os riscos de investimento, bem como o acesso ao financiamento foram mais intensos, porém o lucro compensava. Isso quer dizer que, hoje, o mercado está mais consolidado, com menor chance de falhar, no entanto com margens inferiores? Essa tendência vai continuar?
O capital investido no segmento sofria um ataque constante e intenso, muito em função da volatilidade do custo dos insumos, da insegurança jurídica, do câmbio e da regra dos juros internos. Mas por sua vez, a própria volatilidade dos preços de venda, o câmbio e o custo dos juros dos planos do governo para o setor, possibilitavam uma margem muito interessante. Esses resultados positivos facilitaram liquidar os novos empréstimos, bem como o que estava atrelado ao passivo oriundo da aquisição.
Você costuma dizer que o sucesso na vida depende da combinação de 4 fatores: Conhecimento, Sabedoria, Estratégia e Experiência. Como equilibra esses fatores na prática?
Não adianta você ter conhecimento e sabedoria e não montar uma estratégia boa. Com certeza, a sua experiência será ruim, provavelmente acarretando perdas ou minimizando os ganhos. O conhecimento, a sabedoria e a estratégia têm que estar alinhados e equilibrados. Claro que no segmento Agro o volume de informações e as evoluções tecnológicas andam, atualmente, em uma grande velocidade.
Portanto, mesmo que domine um ou dois dos três fatores necessários, sempre vai precisar os três.
A solução é contratar especialistas, para suprir a sua carência, assim você ganha uma boa experiência. Minha recomendação para os jovens é fundamentalmente essa: Busquem conhecimento intensamente. O tempo e aplicação deste trará a sabedoria. Ouçam os mentores, os mais experientes. Isso ajuda para que vocês reflitam melhor e pensem, repensem várias vezes na estratégia a adotar, ouçam conselhos e reflitam novamente; com certeza terão ótimas experiências!
No agro estamos, atualmente, na fase da passagem do bastão para a 3ª geração. Os jovens devem contribuir com novas tecnologias e com métodos de gestão mais modernos para o negócio familiar. Quais são suas experiências na convivência com as famílias de produtores, especificamente nesta questão da sucessão?
No Brasil, o volume de propriedades que estão na terceira geração ainda é muito baixo. Segundo dados de mercado cerca de 15% apenas estão nas mãos da terceira geração. A minha percepção, convivendo com famílias ligadas ao agro, é que essa terceira geração está bem menos agressiva, bem mais cautelosa e avessa a riscos para crescer. A sensação que passa é de que essa geração, em grande parte, tem medo de perder ou colocar em risco o patrimônio construído pelo antecessor.
No Agro o valor do imobilizado em terras é expressivo dentro do negocio, os equipamentos e tecnologia necessária consomem outra grande fatia dos recursos em investimento. Normalmente nesta terceira geração o ganho patrimonial com a valorização imobiliária já foi conquistado pela segunda geração. Portanto, rentabilizar o capital imobilizado com os resultados da operação é bastante desafiador. Então, é comum você encontrar uma terceira geração que não está crescendo e sim lutando para se manter e não diminuir.
Com o aumento da complexidade de todos os assuntos e da aceleração da velocidade de novas soluções surge o desafio de se manter informado. Parece que sua prática de intercâmbio quase diária com um grupo de 9 amigos é uma maneira eficiente para sempre estar atualizado. Como funciona essa comunicação?
O Agro é muito dinâmico. A atualização tecnológica, poderia se dizer, voa.
Quer seja em máquinas e equipamentos, bem como em insumos, fertilizantes, sementes e genética. Atrelado a isso, temos a economia e as finanças da própria atividade, a gestão e o controle. Gerir e produzir riqueza no Agro, hoje, é uma ciência complexa. Portanto, precisamos estar constantemente compartilhando conhecimento e experiências para que os colegas produtores, aprimorem suas estratégias e possam ter uma boa experiência.
Uma das formas que praticamos em nosso grupo de Relacionamento é compartilhar eletronicamente e pessoalmente, informações com amigos do Mercado financeiro, especialistas em políticas de governo, advogados, agronomos, pesquisadores.
O objetivo não é competir, mas sim, compartilhar conhecimento, ensinar o “vizinho” a fazer algo bom que você já fez. Eu por exemplo, gosto de pegar a estrutura de custos de produção do amigo do vizinho e montar um modelo e uma estratégia de proteção de preço, quer seja de alta ou de baixa. Dentro da filosofia que, se meu vizinho estiver forte, a minha região será forte, a valorização acontecerá e, como consequência, teremos fornecedores líquidos e clientes fieis.
“O conhecimento, a sabedoria e a estratégia têm que estar alinhados e equilibrados.”
Por Francisco Vila