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Entrevista Perfil Agro com Antonio Chaker 

Antonio Chaker, casado e pai de três filhos, é filho e neto de produtores rurais. Ele se formou em zootecnia e fez o mestrado na Universidade Estadual de Maringá.

Aproveitando da sua vocação empreendedora se tornou fundador e diretor executivo do Instituto Inttegra, que desde 2015 capitaneia uma revolução na gestão das fazendas, especialmente de pecuária no Brasil. Ele foca no desenvolvimento de pessoas, na gestão e na tecnologia no campo. 

Antonio é autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária”, o qual, pelo número de cópias, é considerado um best-seller da pecuária. Seu trabalho abordou a fundo questões de tecnologia aplicada à gestão pecuária, como também os sistemas produtivos agroambientais. 

A equipe do Instituto Inttegra, conduz a gestão de mais de 800 fazendas, 2,4 milhões de cabeças de gado e 234 mil hectares de agricultura distribuídos em 19 estados brasileiros além do Paraguai. Outro foco que contribuiu para colocar o trabalho do Antonio na liderança da modernidade do setor é a criação do benchmarking do agronegócio que reúne cerca de 450.000 dados, de mais de 1.500 fazendas avaliadas. Além disso, a Inttegra atua na área educacional que já formou mais de 1.500 alunos.

A vasta equipe ministra palestras e organiza treinamentos desde o ano 2000.  A missão do Antonio é seguir transformando o agronegócio do Brasil, setor pelo qual ele é apaixonado e no qual ele acredita.


Como filho de produtores com atividades no Pará, bem como no Paraguai você foi criado em Sorocaba, uma cidade grande no interior do estado de São Paulo. Como esses dois mundos, do rural e do urbano, contribuíram para sua trajetória como consultor, autor e mentor? 
Os dois mundos – urbano e rural – estão interconectados. A dinâmica da cidade oferece velocidade, inovação e convívio social, enquanto o ambiente rural é marcado pelos processos biológicos, o ritmo natural de plantar e colher, e a beleza da transformação da energia do sol em alimento. Com a chegada do superciclo tecnológico e da inteligência artificial, não só o modelo urbano de vida está sendo transformado, mas também a produção agropecuária. As pessoas que conduzirão essa transformação não são mais as mesmas que dedicaram sua vida ao campo.

As propriedades rurais precisarão se adaptar para receber profissionais com experiência urbana, o que levará a mudanças no modelo de produção, no layout e nos processos internos das fazendas. Ter vivido intensamente em ambos os mundos contribui para a construção dessa ponte que conecta o campo à cidade.

Como construiu sua carreira desde a formação universitária? 
No final dos anos 1997, tive a oportunidade de estagiar na Embrapa Gado de Corte, sob a orientação do pesquisador e extensionista Armindo Kichel. Esse estágio me proporcionou uma compreensão profunda do ambiente pastoril e dos sistemas integrados de produção, além de abrir portas para meu primeiro emprego na Fazenda Santa Virginia, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul. Lá, tive a oportunidade de trabalhar com grandes líderes, como Cesario Ramalho, cuja orientação foi crucial para minha formação profissional voltada para a gestão.

Esses anos vivendo em uma fazenda-empresa me ensinaram que as decisões devem ser baseadas em dados e em uma visão estratégica. Encerrei meu ciclo na fazenda, para fazer o mestrado em produção animal e ao final do período de estudo iniciei a primeira empresa que construi, início dos anos 2012, o período de consultoria foi até 2015. Foi com a fundação do Instituto Inttegra, quando minha carreira passou de consultor, a formador de consultores e desenvolvimento tecnologico. Nos últimos anos, além do foco em treinamento e tecnologia, me dedico à construção de protocolos regenerativos de produção agropecuária.

Fala-se muito dos impactos de ‘defining moments’ na caminhada profissional e pessoal. Pode indicar alguns deles que reforçaram ou mudaram sua trajetória?
Três momentos foram decisivos na minha formação profissional. O primeiro ocorreu quando trabalhei em uma fazenda após a graduação. Essa experiência aprofundou minha compreensão de que a produção não se resume apenas a processos técnicos; ela é profundamente influenciada por fatores humanos. Para ser um profissional transformador, é essencial compreender as relações humanas e os aspectos motivacionais.

O segundo momento foi em 2005, quando liderava uma empresa de consultoria e enfrentamos o impacto da febre aftosa, que resultou no cancelamento de muitos contratos. Percebi que a carreira técnica de consultor é muito diferente da de empreendedor. A partir de então, compreendi a necessidade de desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas também capacidades de liderança para gerenciar uma empresa de consultoria.

O terceiro momento ocorreu em 2015, inspirado por meu mentor Francisco Vila, que durante um longo voo, me provocou dizendo: “Você precisa parar de ensinar pecuaristas e começar ensinar muitos profissionais do agronegócio, não apenas sua equipe”. Assim, nasceu o Instituto Inttegra. Descobri que liderar um projeto que atende 150 propriedades demanda habilidades completamente diferentes que um projeto com 800 fazendas. Essa experiência destacou a importância do desenvolvimento pessoal contínuo para o crescimento profissional. Reconheci que o que nos trouxe até aqui não é o que nos levará adiante, e isso trouxe uma consciência sobre a necessidade de evolução diária.

Em sua trajetória profissional você se encontra, com seus 49 anos, exatamente entre a idade dos donos de empresas rurais, que contratam seus serviços, e os sucessores recém-formados. Quais são as facilidades e barreiras na assessoria dos pais e quais as facilidades e dificultados na comunicação com os filhos sucessores e herdeiros? 
Cada geração traz características marcantes. Os mais velhos (baby boomers) possuem um forte foco no trabalho e um foco no crescimento horizontal, como a aquisição de terras, mas podem ser menos adaptáveis às mudanças. Já os mais jovens, que cresceram na era da internet, esperam rápidas transformações e veem o trabalho não apenas como um meio de sustento, mas como uma maneira de cumprir seu propósito de vida.

A principal dificuldade é alinhar essas diferentes perspectivas sobre sucesso: para os mais velhos, está relacionado à conquistas tangíveis, enquanto para os mais jovens, às experiências vividas. Compreendendo essas diferenças, é possível alinhar e potencializar as características de cada geração, trazendo disciplina e paciência aos mais jovens e maior velocidade de mudança e compreensão do propósito aos mais velhos.

Como combina sua vocação para números com a habilidade de focar nas pessoas? Não são dois mundos distintos?
Esses mundos são distintos, mas complementares. Quanto mais estudo os números, mais reconheço que eles refletem as habilidades humanas. Resultados consistentes e duradouros só são possíveis quando as pessoas veem o trabalho como parte essencial para realizar seus sonhos e propósitos. O número, especialmente o financeiro, não é um fim em si, mas um indicativo de que o projeto está sendo bem feito e que as pessoas estão engajadas em uma causa. Reconhecer que esses mundos se retroalimentam é crucial para o sucesso.


“Para ser um profissional transformador, é essencial compreender as relações humanas e os aspectos motivacionais.”


Dos dez melhores fazendeiros em índices de produtividade apenas sete constam também na lista dos dez fazendeiros mais rentáveis. Baseado no seu modelo de benchmarking, como explica essa eventual diferença entre produtividade de lucratividade?  
Nem sempre quem mais produz é quem mais ganha, mas quem mais ganha tende a produzir mais. Isso demonstra que o sucesso econômico está no equilíbrio entre produção e custos, sustentando a teoria dos ganhos marginais. Uma fazenda equilibrada em seus principais processos é muito mais rentável do que uma que se destaca apenas em um componente.

No agro fala-se mais sobre a paixão do que sobre a margem. Mas sem lucratividade não se gera o caixa para financiar os investimentos necessários para atender à crescente demanda por sustentabilidade exigido pelo consumidor. Como está encarando a integração de produtividade, lucratividade e sustentabilidade na produção do campo?
A beleza do agronegócio está na sustentabilidade altamente correlacionada com parâmetros econômicos. A lucratividade está intimamente ligada à produtividade, que é resultado de práticas sustentáveis. Por exemplo, um pasto bem manejado não só garante uma boa produção de carne e captura gases de efeito estufa, mas também resulta em uma produção com alta margem. Na agricultura, o plantio direto, o uso de condicionadores de solo e insumos biológicos integrados ao modelo químico aumentam a produtividade, reduzem os custos de produção e beneficiam a atividade biológica do solo. Em processos biológicos, não há rentabilidade sem sustentabilidade.

Qual é sua visão sobre os impactos da automação da produção e da inteligência artificial sobre a gestão dos diversos elos da cadeia produtiva dos alimentos?
A automação de produção, sistemas conectados e inteligência artificial definirão o futuro da produção de alimentos no planeta. O processo agropecuário é complexo e influencia inúmeras variáveis. Sistemas autônomos de coleta e processamento de dados, aliados a decisões baseadas em IA, serão decisivos para a qualidade das decisões. As mudanças demográficas, geracionais e o aumento da demanda por alimentos se beneficiarão com a chegada do superciclo tecnológico.

“Nem sempre quem mais produz é quem mais ganha, mas quem mais ganha tende a produzir mais.“

   


Por Francisco Vila
Fotos: Divulgação 

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