Falar de Cintia Ramos é reunir as melhores qualidades de mulheres dentro de uma só.
Exemplo de força, perseverança e determinação, ela encanta ao revisitar as dificuldades e alegrias de um passado que moldou o seu presente e desenha seu futuro. Com os olhos cheios de lágrimas, ela reforça a importância de sonhar junto com seus filhos. Na edição de dia das mães, não há pessoa melhor para contar uma história de inspiração.
Filha de José e Lionizia, igualmente batalhadores, Cintia é a mais velha de quatro irmãos, duas mulheres e dois homens. Casada há 19 anos com o Douglas Ramos, (@douglasramos6301). Mãe da Lavínia Sudré (@laviiniae), do Endrick (@endrick) e do Noah Gael (@noahgaelzinho). Avó do Wendrel e do Théo. Nasceu no hospital do Guará, na capital Brasília e morou grande parte da sua vida em Taguatinga. Desde cedo, tomou gosto pela independência. Quando os pais saíam para trabalhar, era Cintia que cuidava dos irmãos. “Era uma infância muito gostosa”, relembra Cintia com os olhos marejados.
Aos 13 anos, ela começou a trabalhar fazendo pequenos favores para os vizinhos. Queria poder comprar as suas próprias coisas. Queria ver o mundo com as próprias lentes. A pouca idade nunca foi empecilho para a sua força de vontade. “Lembro como se fosse hoje… a minha mãe me ensinando a cortar um frango”, recorda ela, ao falar que a infância gostosa nunca escondeu as dificuldades. É grata por não terem passado fome, mas não era fácil.
No dia em que seu pai recebia o pagamento do mês, era a maior alegria. Nesse dia, eles comiam frango e batata com uma coca-cola. “Naquele tempo, as coisas eram mais difíceis. Hoje eu posso comer o que eu quero, mas lembro com muito carinho dessas pequenas alegrias”. Ela relembra que passavam todos os outros dias esperando pelo dia do frango e batata com coca-cola.
A relação familiar sempre muito unida desde a sua infância foi a base de princípios e virtudes que Cintia sempre transmitiu para o marido e para os filhos. Com a respiração mais encurtada e as lágrimas se acumulando nos olhos, ela recorda: “Quando eu ia chamar meu pai para jantar, eu entrava na vendinha e ele dizia: ‘Neguinha, quer um docinho?’ Saía de lá com doces para mim e pros meus irmãos”.
Valores não se perdem, são transmitidos
“Sempre aprendi a lutar pelo que eu queria. Meu pai é um paizão. Sempre apaziguador. Hoje o que eu quero pros meus filhos é que tenham caráter, princípios, que sejam homens e mulheres do bem. Minha mãe me ensinou a não pegar nada emprestado de ninguém, a correr atrás do que a gente quer, ser correto, ter humildade…” assegura Cintia, que faz questão de transmitir os ensinamentos de seus pais para os seus filhos.
Desde muito nova, ela decidiu encontrar formas de ajudar os pais com as despesas, para comprar as suas próprias coisas. Trabalhou por bastante tempo como auxiliar de serviços gerais no Tribunal da Justiça do Distrito Federal e nesse período, conseguiu começar a comprar seus próprios pertences. “Fogão, geladeira pequena, um hack… Como se montasse a minha casa própria dentro do meu quarto. Sonhava em um dia ter um apartamento meu.”
Foi transferida na mesma função para o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, onde conheceu seu esposo Douglas e estão juntos há 19 anos.
Cintia nunca conheceu o sentimento de esperar que a vida acontecesse para ela. Na experiência dela, é ela que faz a vida acontecer, sempre acreditando muito nos planos de Deus para ela. Sempre buscando aperfeiçoar seus conhecimentos e capacitação em novos cursos, entre eles de o segurança.
Seus pais, José e Lionizia, que hoje ainda residem em Brasília, puderam assistir de camarote a linda família constituída por Cintia e Douglas, sabendo que seus ensinamentos foram passados e seguem sendo transmitidos pelas gerações da família.
O começo do sonho
Os inícios são turbulentos porque não temos a certeza do sucesso no fim. O meio do caminho nublado de desafios e provações não enxerga as cores e abundância do final. Se sequer existir um ponto final, porque enquanto há vida, há caminhos a serem percorridos. Mas o que se faz para continuar? Para Cintia, a resposta é acreditar.
Dentro das paredes carimbadas de sonhos do Allianz Parque, Cintia revisita as memórias do início do sonho do seu filho Endrick: “Meu marido colocou um vídeo do Endrick para rodar e muita gente viu. Olheiros, empresários… recebemos muitas propostas. Meu marido foi convidado para fazer um tour no Allianz e foi emocionante ouvir sobre a primeira vez que ele pisou nesse gramado.”
Em 2017, Cintia se mudou para São Paulo com Endrick. Dividiram uma casa com outros meninos. Ela não podia trabalhar. Seu marido, Douglas Ramos, ficou trabalhando em Brasília. É nesse momento que as dificuldades retornam com ainda mais força, fazendo Cintia se agarrar ainda mais à sua fé.
“Eu não conhecia ninguém. Uma cidade nova. Não tinha dinheiro. Liguei pro meu marido e falei que não tinha nada. Ele me mandou um dinheiro, mas na época, não chegava na mesma hora, só no dia seguinte. Fui na minha bolsa e achei 2 reais. Fui em um supermercado e comprei uma broa de milho adormecida, que eles vendem mais barato. Deus faz a gente passar por algumas provações para a gente entender no futuro. Hoje eu sei o que é passar fome. Pouco, mas tive a dimensão do que é. É horrível.”
Trabalhando desde os 13 anos, não foi fácil ficar sem trabalho temporariamente. Chegou a enviar currículos para diversos lugares, mas por causa de conflitos com os horários estritos do Endrick, não conseguiu emprego. Teve uma oportunidade de trabalho na área em que se capacitou, mas até mesmo o empregador a considerou muito acima do cargo disponível. Incansável, Cintia sempre esteve na ativa, driblando as adversidades. Construiu um currículo forte, extenso e com grande experiência, tornando ainda mais angustiante não encontrar esse equilíbrio momentaneamente. “Confiei em Deus e não retrocedi.” afirma ela.
Quando o medo bate na porta
Antes de chegarmos ao Allianz, outra parada era inegociável. Parque Água Branca. Só o nome já é o suficiente para evocar grandes memórias de perseverança em Cintia. Movida a não deixar que seu filho visse seus momentos de fragilidade, ela pegava a sua Bíblia e orava no parque. “Não era fácil. Às vezes caminhava, orava… Muitas vezes me sentia muito sozinha longe do meu marido e ia chorar no banheiro. Não queria que o Endrick me visse chorando.”
Com todas as lutas e fragilidades, tudo fazia sentido quando ela via os olhos dele brilharem: “Quando ele chegava da escola era uma alegria. Quando chegava do treino, então… era uma alegria maior ainda. Eu via os olhos dele brilhando. O sorriso no rosto dele.” Nesse momento, o coração de uma mãe que decidiu sonhar junto com o filho encontrava conforto.
“Cada tijolo tem uma lágrima”
Quando se mudou para São Paulo, Cintia tinha acabado de finalizar a reconstrução da casa com seu marido em Valparaíso. Ela trabalhou na prefeitura da cidade durante quatro anos, e em muitos momentos, levava o filho junto. Tomou a decisão de deixar tudo, porque: “Sozinho, ele [Endrick] não ia. Quando voltasse, eu não ia nem reconhecer mais. A gente não sabe, não conhece as influências.”
A dúvida sobre deixar tudo pairou, afinal tinha acabado de finalizar a reconstrução da sua casa, que lembra com muita emoção: “Cada tijolo tem uma lágrima. Passamos muitas coisas lá para conseguir construir aquela casa, sem saber o que ia acontecer no futuro. Muita luta, muito choro.”
Mas no final, eram bens materiais. Dar suporte ao sonho do seu filho fazia seu coração bater mais forte. Dar apoio a filhos que têm sonhos muito grandes não é tarefa fácil. Cintia, que é mãe da Lavínia, do Endrick e do Noah, sabe muito bem disso. Ela persiste porque entende a importância de apoiar os sonhos de cada um.
Em 2023, lançou a empresa Noah Care (@noahcare__), uma linha de produtos kids especializados em cachos, crespos e lisos. Tendo sua filha Lavínia Sudré como CEO, ela sente orgulho de ter apostado nas ambições de seus filhos. Por isso, ela finaliza com uma mensagem para todas as mães que estão passando por provações e continuam acreditando:
“Sempre acredite. Tenha fé em Deus. Se Ele quiser, Ele pode. Ver os olhos do meu filho brilharem quando voltava dos treinos, quando falava sobre futebol, era o que me dava força pra continuar. Em um lugar que eu não conhecia ninguém, passando dificuldades… mas aquele brilho no olhar e aquele sorriso era gratificante demais. Por isso que eu falo que quando tinha vontade de chorar, chorava no banheiro, porque se ele me visse chorando, ia ficar triste. Uma vez, ele me perguntou ‘Quer voltar?’, e eu falei ‘Não, está tudo bem, vamos continuar’. Acreditem nos seus filhos. Sonhe com eles. Tentem acompanhar, porque não sabemos se pode dar certo ou não, mas acreditando… você não vai pensar no futuro ‘poxa, por que eu não tentei?’. Tenham fé e acreditem.”
“Sempre aprendi a lutar pelo que eu queria.”
“Confiei em Deus e não retrocedi.”
Cintia Ramos (@cintiaramossousa)
Por Zilma Bezerra
Créditos fotográficos:
@naylabernardesfotografia
@matheusbatistafilms
Roteiro @bbrugomes