Entrevista com Alexandre Baumgart

Engenheiro, filho e neto de engenheiros. Sob uma educação prussiana, Alexandre começou a trabalhar desde muito cedo nos negócios da família acompanhando o pai Curt, que foi sua referência, mentor e incentivador.

Dividiu-se entre as indústrias Vedacit e as Fazendas Reunidas, trabalhando durante sua vida escolar e acadêmica.

Começou na Vedacit como auxiliar de laboratório passando por todas as áreas da empresa. Assumiu as Fazendas em 1985, tornou-se diretor da Vedacit do Nordeste em 1988 e da Vedacit de São Paulo em 1995.Deixou a empresa em 2016, passando a dedicar-se exclusivamente ao agronegócio do grupo, onde hoje é CEO.

Foi conselheiro do IBI- Instituto Brasileiro de Impermeabilização e do IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto.
Participou do comitê de pessoas do Grupo Baumgart, do conselho da família e, ainda, foi coordenador do comitê de estratégia da Vedacit.


Hoje, além de CEO da Agropecuária, Baumgart é conselheiro junto à FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo do Conselho Superior do Agronegócio.
Foi mentor de 3 empresas nas áreas médica, manutenção de aeronaves e de construção civil. Pilotou uma aeronave aos 15 anos de idade, e seguiu na vida aeronáutica até achegar à categoria profissional de linha aérea. Durante quatro anos, participou de Rallys com um caminhão projetado e montado por ele mesmo.

Nasceu, cresceu e ocupou papel importante como executivo de uma indústria de porte em São Paulo. Agora mora na sede das Fazendas Reunidas em Goiás.

O que move um urbano típico para trocar a cidade pelo campo?
A princípio, é um amor antigo. Pretendia seguir agronomia, mas o DNA de engenheiro de três gerações na indústria e vontade de ajudar meu pai me desvirtuaram positivamente deste meu destino certo. Não fiquei distante da fazenda, fritava o peixe e olhava o gato, ainda mais piloto desde os 15 anos, avião era igual bicicleta, era subir, pedalar e, com pouco prazo, já estava no campo. Consegui durante a vida temperar a obrigação do estudo com a diversão do trabalho.

Quando a gente quer, cabe tudo na agenda. Aprendi desde cedo a estar no chão de fábrica, nas entranhas dos negócios onde tudo acontece, comendo sal com os colaboradores para adquirir respeito e poder ter a honra de liderar pessoas. Com a experiência adquirida na indústria e a disciplina do trabalho, não havia outra forma de estar no negócio, com uma fazenda e um mundo de oportunidades surgindo no agro, foi muito mais que natural que isto acontecesse, praticamente um chamado. Um mundo de oportunidades me esperando logo ali, uma fábrica a céu aberto, no melhor da minha idade, do conhecimento e da experiência. Seria um desperdício não dar voz ao coração e à razão nesta breve passagem pela vida.

A família Baumgart construiu ao longo de três gerações negócios em diversos setores. Assim, pode-se dizer que nasceu num “berço esplêndido”. A sabedoria popular reza que “a necessidade é a mãe do sucesso”. Assim, pergunta-se: como você construiu sua relevante trajetória sem ter sentido essa pressão de vencer?
Aproveitei a melhor das oportunidades que tive na vida que foi a de estar perto de meu pai. Ele tinha fascínio pelas oportunidades de negócio e tratava o trabalho como prazer e alegria e não como uma obrigação ou apenas uma necessidade de sobrevivência. Sabia que com trabalho se prospera, que só o trabalho constrói, e o fazia de forma determinada, mas natural.

Trabalho era seu dia a dia. Como diriam alguns, descansava carreando pedras. Com uma escola dessa e compreendendo a mensagem, não existe outra forma de olhar o mundo senão como um imenso playground nos esperando. Obviamente não foi tudo um mar de rosas, afinal, educação prussiana é prussiana, em que o argumento de professores e colaboradores estavam sempre acima dos meus, mesmo tendo eu a razão, mas eu soube entender o recado. Afinal, o melhor aço se forja, não apenas se funde em uma forma. Aprendi que para liderar você deve, independentemente do cargo ou posição societária, ser o melhor funcionário da empresa. E o melhor poder é aquele que você não precisa usar: respeito.

Quais são as fontes que alimentam sua energia como pessoa e empreendedor?
Como pessoa, as lembranças da educação que tive, minha filha que é minha extensão, assim como sou a de meu pai, e a vontade de servir a todos os que decidem dividir suas vidas comigo em minha jornada. Como empreendedor é ver esse imenso playground de oportunidades esperando por esta criança aqui. Este mundo VUCA é fascinante, aprender todo dia algo novo, tudo em mutação, edificar, criar coisas a partir do nada e ainda de quebra poder liderar, fazer a diferença para alguém.

Quais são os eventos que mais contribuem para que se sinta realizado e feliz como ser humano e como profissional?
Sinto-me realizado quando as pessoas que estão comigo, sejam amigos ou colaboradores, prosperam e conseguem conquistar seus desejos, e saber que fui parte dessa construção. Como profissional é conseguir o que poucos ou ninguém conseguiu, resolver problemas complexos ou fazer algo que se achava improvável dar certo, vencer o desfio do desconhecido.

O pensar, o imaginar a solução do pouco possível me incentiva, extrai a força do fundo da alma para o fazer, pensar, testar, analisar, refazer, testar até que este ciclo feche em resultado. Juntar pessoas, características diferentes, pensares diferentes de forma ordenada em torno de um objetivo comum, ainda mais quando sou coroado vendo quando as pessoas que estão sob minha batuta começam a repetir frases e a ter as mesmas ações que as minhas, é algo indescritível.


Ao falar sobre sua estratégia empresarial você costuma destacar a importância das pessoas. Como você costuma identificar, escolher, orientar e manter seus colaboradores nas mais diversas atividades e níveis?
Toda vez que eu conseguia atingir um objetivo e meu orgulho pelo feito vinha à tona, era insistentemente lembrado que o sucesso não era meu, mas da equipe que eu conduzia.

Esse ensinamento me fez desde cedo ser empático aos colaboradores, reforçado pelo ambiente de companheirismo profissional e humildade do chão de fábrica, que acabaram por me fazer adquirir uma sensibilidade e atenção extras aos comportamentos das pessoas. Analiso as atitudes e comportamentos em primeiro lugar; se estes estão alinhados com nossos princípios e as palavras da pessoa, mais proatividade e caráter.

Afinal são estes os principais pontos a se observar, pois conhecimento se ensina, o resto é programação interna do ser. Quando os mínimos detalhes são observados e percebe-se que existe uma vontade real de crescimento, mais da metade do caminho está pronto. O resto é conduzir comportamentos e dar conhecimento, em qualquer nível – afinal, são todos seres humanos, e esta diversidade faz com que sempre haja um caminho adequado para cada um.

Fora da sua família, quem foram as personalidades ou figuras da literatura que mais contribuíram para sua formação e pela escolha do seu caminho?
Sempre fui bom ouvinte e curioso, convivendo com pessoas simples a vida inteira, que para mim são celebridades. Aprendi muito com a sabedoria de pessoas que viveram realidades duras e que delas puderam extrair lições, e que muitas vezes nem sabiam que mais me ensinavam do que o contrário.

Acabei conhecendo muito bem as entranhas de nosso País, muito bem ciceroneado pelo exército de gerentes e representantes comercias que eu liderava quando diretor na Vedacit. Isto facilitou ainda mais o aumento deste universo amostral e de experiências além dos portões das fábricas.

Houve sim uma pessoa relevante em Salvador que acolheu de forma instrutiva aquele jovem de 19 anos recém-empossado como líder da unidade da Vedacit do Nordeste.

Com laços familiares que remontam aos idos de 1882 em Blumenau, o Sr. Norberto Odebrecht, já falecido, e por quem nutro profundo respeito e admiração até hoje, além de meu pai, é lógico, me recebia de bom grado em seu escritório para termos o que chamo de “conversas esclarecedoras”. Também de hábitos prussianos mas de perfil diferente de meu pai, que vinha com o manual de soluções frente minhas questões, “Dr. Norberto” como era orgulhosa e carinhosamente chamado por todos seus funcionários, não respondia de pronto às minhas indagações.

Simplesmente com toda sua experiência e dono de uma oratória invejável, me cativava e envolvia em suas detalhadas histórias de vida e de trabalho, nas quais a resposta estava lá, contextualizada e traduzida, um verdadeiro “learningbydoing”. E assim foi até seu falecimento.

Em suas fazendas, que acompanha há 30 anos, a gerente administrativa há mais de uma década é uma mulher. Pode nos dar sua visão sobre o papel da mulher no agro?
A família já tem o hábito desde a época de meu avô de trabalhar com mulheres. Isso nunca foi um tabu, e sempre olhamos o que cada um pode fazer independentemente de cor, raça, credo ou sexo. Quando fui diretor da fábrica de Salvador tive a honra de ter também ao meu lado durante 30 anos uma mulher como meu braço direito, que topou a empreitada desde o início. Eu atirei do cargo de secretária do gerente de vendas e coloquei-a como gerente da planta.

Ela acabou por me substituir na diretoria da empresa quando de minha saída. Hoje, no agro, não foi diferente - eu precisava de um contador para colocar a casa em ordem na fazenda. Foi-me indicada a Simone, que também topou a empreitada de tratar uma fazenda que, até então era no CPF, como uma indústria de CNPJ. E aconteceu. Prosperamos, a fazenda e ela, a ponto de ser reconhecida e ganhar o prêmio de mulheres do Agro. Vejo o papel feminino de extrema importância, afinal são tão competentes quanto qualquer um independentemente da função. O que importa é o que cada um está disposto a fazer.

Como as famílias do Grupo Baumgart construíram seu modelo de governança para manter as empresas em pleno crescimento?
Com a chegada de outras gerações ao negócio, a família decidiu por sair das operações da Vedacit e da Cidade Center Norte, colocando nos cargos-chave profissionais de mercado que viriam a responder a um conselho de administração formado por representantes dos três núcleos da família, e também de membros externos. Além deste conselho, formaram se outros comitês específicos com familiares e participantes externos para dar apoio ao conselho de administração. Em paralelo formou-se o conselho de família, onde as demandas familiares são tratadas. E a governança que faz todo o tráfego de demandas e atividades entre os conselhos e acionistas.

Quais experiências e conselhos gostaria de compartilhar com os jovens recém-formados da classe média alta para encontrarem seu caminho para o sucesso e para a felicidade?
Não gosto de falar de conselhos, mas de conclusões tiradas a partir de experiências e observações. Afinal, tudo nasce dentro de contextos diferentes e independentes, mas que têm uma certa similaridade em seus desfechos.

Chamo a isto de “natureza das coisas”. E contra natureza não adianta lutar - é entender e se adaptar. Primeiro é se entender como pessoa, como funcionam a sua natureza e seus anseios. Por mais que você tente ser o que não é, uma hora a sua natureza aparece e, quanto mais rápido você aceitar o que é e o que quer, ser menos esforço e tempo você vai gastar, afinal tempo é algo escasso e tem de ser muito bem aproveitado. Não tem certo ou errado. É o que é, daí é extrair o que dá do que se tem. Mas aí é que está o segredo: de que forma tirar o que se tem e se fazer melhor e mais eficiente uso disto? Uso uma frase que diz que não precisamos fazer o que gostamos, mas precisamos gostar do que fazemos.

Senão, a cruz que todos carregamos fica pesada, e se é pesada ou leve depende apenas do jeito que a carregamos. Na aviação, falamos que tudo que se faz força demais ou de menos pra funcionar não está correto; reavalie o processo ou o equipamento.

Entenda a relação de grandeza das coisas. Tudo que é desproporcional não está dentro das leis naturais da vida, desconfie. Estamos em tempo de mudanças rápidas, o que mais vi na vida é coisas mudando de mãos, tão rápido que quase não se percebe. Todos queremos uma saída rápida para tudo, uma resposta só para um problema, um lastshot matador, definitivo, que nos deixe em vantagem e conforto eternos. Esqueça disso! Nada tem fim. Quando achar que chegou já começa tudo de novo. Se você não estiver constantemente dando impulso na roda outro vai dar.

Então, apaixone-se pela vida do seu jeito para não perder isto tudo que está ao seu redor e fazer tudo com alegria. Coloque as suas vísceras no que faz e nunca se arrependerá. Deus está sempre testando a gente. Quanto mais próximo do êxito, mais impossível a tarefa parece. O herói é aquele que aguentou só 5 minutos a mais que os outros. Quando estiver insuportável e você estiver fazendo algo de coração, lembre, mas de coração mesmo, que Ele dá aquele sopro final. Confie.
Lembre-se que a palavra “não” não existe, apenas o “sim” e o “pouco provável”. Sucesso é fazer com que o pouco provável para os outros torne-se factível para você e você só poderá fazer o que é factível através do outro e da natureza das coisas. 

Quando a gente quer, cabe tudo na agenda.


“Sinto-me realizado quando as pessoas que estão comigo, sejam amigos ou colaboradores, prosperam e conseguem conquistar seus desejos, e saber que fui parte desta construção.”


Sucesso é fazer com que o pouco provável para os outros torne-se factível para você e você só poderá fazer o que é factível através do outro e da natureza das coisas.

“Toda vez que eu conseguia atingir um objetivo e meu orgulho pelo feito vinha à tona, era insistentemente lembrado que o sucesso não era meu, mas da equipe que eu conduzia.”

 


Por Francisco Vila
Fotos: Divulgação

 

 

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